Manifestações em defesa da democracia serão realizadas em várias capitais brasileiras por entidades civis, marcando a passagem de um ano e o repúdio à tentativa de golpe de Estado, realizada por bolsonaristas, em 8 de janeiro de 2023
Entidades civis realizam, hoje, em várias capitais, manifestações em defesa da Democracia. Em Brasília, no Congresso Nacional, os presidentes dos Três Poderes da República participarão do evento “Democracia Inabalada”. Também em Brasília, o Supremo Tribunal Federal (STF) inaugura a exposição “Após 8 de janeiro: Reconstrução, memória e democracia”. Todas as programações marcam a passagem de um ano da tentativa de golpe de Estado, realizada por bolsonaristas, em 8 de janeiro do ano passado, no pior ataque à Democracia brasileira em quase 40 anos – ou seja, desde o fim da ditadura militar. O objetivo é mostrar a solidez do regime democrático do País. Mas, também, não permitir que a tentativa golpista seja esquecida, para que nunca mais esse crime se repita.
A exposição do STF será inaugurada às 14 horas. Ela mostrará o esforço de reconstrução do tribunal, o prédio mais vandalizado pelos golpistas. Já o evento “Democracia Inabalada”, no Salão Negro do Congresso, está previsto para às 15 horas. Estarão presentes o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e os presidentes do Senado Federal, senador Rodrigo Pacheco; da Câmara dos Deputados, deputado federal Arthur Lira; e do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso. O evento foi proposto por Lula e contará com cerca de 500 convidados. Entre eles, o vice-presidente, Geraldo Alckmin; o procurador geral da República, Paulo Gonet; ministros do STF, presidentes de outros tribunais superiores, governadores, prefeitos de capitais, parlamentares, ministros de Estado e representantes de entidades civis.
A abertura acontecerá ao som do Hino Nacional, pela cantora e ministra da Cultura, Margareth Menezes. A seguir, virão os discursos dos presidentes dos Três Poderes e de outras duas autoridades: o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, e a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, que falará em nome dos demais governadores. O encerramento será no Salão Nobre do Senado, com a entrega simbólica de uma tapeçaria do artista plástico e paisagista Burle Marx, que foi vandalizada pelos golpistas e teve de ser restaurada; e de uma réplica da Constituição de 1988, que havia sido furtada, mas foi recuperada.
MANIFESTAÇÕES
Até ontem, já estavam confirmadas manifestações em defesa da Democracia em 11 capitais: São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Vitória (ES), Recife (PE), Salvador (BA), João Pessoa (PB), Goiania(GO), Aracaju (SE), Campo Grande (MS) e Porto Alegre (RS). A manifestação em Brasília (DF) foi realizada ontem, devido ao evento “Democracia Inabalada”, que ocorrerá, hoje, no Congresso Nacional. No Rio de Janeiro, a manifestação ocorrerá na Cinelândia, a partir das 17 horas. Em São Paulo, também a partir das 17, na avenida Paulista.
Elas foram convocadas pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que reúnem a Central de Movimentos Populares (CMP); Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST); Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST); União Nacional dos Estudantes (UNE), Central Única dos Trabalhadores (CUT) e movimentos de mulheres e negros, entre outros. “Os atos criminosos e antidemocráticos que aconteceram há um ano no Brasil não podem se repetir jamais. É nossa tarefa histórica defender a Democracia”, disse o presidente da CUT, Sérgio Nobre.
Ele lembrou que a entidade nasceu em plena ditadura militar, “forjada na luta pela Democracia” e por justiça social. E convocou todos os trabalhadores a participarem das manifestações, para mostrar que todos estarão sempre prontos a defender o regime democrático. “Jamais podemos esquecer o que acontece num país sem democracia, sem instituições fortes. Em governos autoritários, a classe trabalhadora é sempre a primeira a ser atacada, a perder seus direitos, empregos, renda”, observou.
A doutora em História e professora da Universidade do Federal (UFPa), Edilza Fontes, observa que a Democracia “exige vigília constante, porque pode ser quebrada”. Ataques, ameaças, ditaduras surgem de uma hora para outra. E a História do Brasil registra vários golpes de Estado. Os últimos 40 anos, aliás, como assinala, “são o maior período de Democracia, no País”. Ela acredita que o golpismo do 8 de Janeiro fracassou porque “grande parte das Forças Armadas não aceitou o golpe”. Mas também porque Lula organizou rapidamente a resposta do Estado e da sociedade civil pela via política. Na época, Lula se recusou a decretar a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), dando poderes aos militares para intervir e conter as manifestações. A GLO era, aliás, um dos sonhos dos golpistas, já que, acreditavam, com as tropas nas ruas seria possível convencê-las a se manterem no poder. Ódio, religião
e golpismo
No documentário “Anatomia de um ataque golpista”, lançado há poucos dias pela Folha de São Paulo, o ministro do STF e presidente do TSE, Alexandre de Moraes, afirma: “O que se pretendia era o fim da Democracia. Era um golpe militar. Era a volta da tirania, da ditadura, a suspensão dos direitos políticos. Não foi um ‘domingo no parque’. Essas pessoas queriam acabar com seus adversários políticos, que consideram inimigos”. Para ele, também, a manutenção dos acampamentos bolsonaristas em frente aos quarteis foi “um grande erro”, já que as “reivindicações” daquelas pessoas (golpe militar, fim do regime democrático, fechamento dos Poderes) não configuram “liberdade de expressão”, mas sim um crime, em qualquer lugar do mundo.
No mesmo documentário, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF, chama atenção para um dos fenômenos mais desconcertantes do 8 de Janeiro e da história recente do País: o ódio como expressão religiosa. “O que mais me impressionou, sobretudo depois de ouvir os relatos dos seguranças, foi a mistura de religiosidade com o ódio. Talvez essa seja a faceta mais desalentadora do processo histórico que aconteceu no Brasil: religião misturada com ódio e com agressividade. As pessoas quebravam (as coisas) a marretadas. Depois, ajoelhavam no chão e rezavam”, comenta.
Fonte: DOL